Era só o tempo que faltava [termine a história]




Foto: Alleksana (@alleksana_photography)


Cris chegou ao local meia hora antes do combinado. Havia uma coisa que ela detestava mais do que ficar esperando: deixar alguém esperando. Agora estava ali, parada na esquina, insultando a si mesma mentalmente. Devia demonstrar um pouquinho de descaso naquela ocasião.

Estava nervosa. Não se viam havia cinco anos.

Ele disse qual era o carro, mas ela não prestou atenção, só gravou a cor: branco. Às catorze em ponto ele parou em frente ao shopping da cidade, esticou-se do banco do motorista e abriu a porta do passageiro para ela. Cris entrou no carro desajeitada, como de costume e concluiu que seu salário talvez não pagasse nem a lavagem daquele carro.

Se isso não tivesse acontecido há mais de vinte anos, poderia dizer-se que estavam num encontro do Tinder. Cumprimentaram-se meio sem jeito e sem assunto, como se nunca houvessem se visto – de um jeito estranho, não como se estivessem felizes por se conhecerem.

Foi ele quem quebrou o silêncio: pediu desculpas por estar naquele carro, é que o seu estava no conserto. Cris levou um tempo até entender o que ele estava querendo dizer. Sim, ele estava se desculpando por estar com um carro inferior. Nesse momento, em menos de cinco minutos com o ex, Cris pensou que talvez aquele encontro tivesse sido uma péssima ideia. Sua ideia.


Cris e Renato se conheceram quando eram duas crianças ainda, entrando na adolescência. Ela com doze, ele com catorze. Ainda brincavam na rua quando ele lhe roubou um beijo num jogo de verdade ou desafio. Se fosse hoje, ela teria virado a mão na cara dele. Mas não havia maldade naquilo. Eram crianças, todas tentando descobrir como seria deixar de ser. E ele era o menino que ela gostava, mesmo que não fosse bonito.

Foi seu primeiro beijo. No final dos anos oitenta, as coisas ainda eram bem diferentes. 


(continua)
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