— Gin. Por favor.
— Puro?
— Sim. Duplo.
O barman simpático
me entregou um copo longo pela metade.
— Você está bem? –
Perguntou ele por nada.
— Uhum – respondi
seca.
Imediatamente senti
que fui meio grosseira e me arrependi. Talvez ele só tivesse achado estranho
uma mulher sozinha sentada no balcão de um bar de uma balada vazia virando a
terceira dose de gin na noite de Natal. Nada estranho.
— Meus amigos
estão lá embaixo, na pista. Não tô a fim de dançar.
— Também não gosto
desse deejay.
— Eu não disse que
não gosto do deejay.
— Desculpe.
— Não gosto.
Relaxa, só quis te constranger.
Ele riu.
Aquela véspera de
Natal estava sendo a mais deprimente da minha vida: longe da minha família, em
uma cidade não muito conhecida e um pouco hostil, com amigos recém-feitos.
— Você não é
daqui, né? – perguntou ele.
— Não. Como você
sabe?
— O sotaque. Por
que gin?
— Mais uma – pedi.
Ele virou, deu um
passo e voltou com a garrafa. E um copo extra. Serviu os dois, entregou o meu,
pegou o segundo, brindou e largou no balcão.
— É esse amargo do
zimbro. Sei lá. Não tem motivo, só gosto. Quando eu era jovem...
— Você é jovem!
— Quantos anos
acha que tenho?
— Uns vinte e
cinco?
— Trinta. Enfim,
eu só bebia gin tônica. Todo mundo bebia. Depois não se bebia mais. Engraçado,
né? Até bebida tem moda.
— Ainda bem que
você não pediu tônica, porque não tem.
— Imaginei.
— O que você faz
da vida?
— Sou...
Antes que eu
respondesse, minha atenção foi desviada pelo meu nome gritado por uma amiga
bêbada. Ela se pendurou em mim, quase me derrubando.
— Vamos lá dançar!
O que você tá fazendo aqui sozinha? Que é isso que você tá bebendo?
— Gin.
— Blerg! Bebida de
velho! Que cena! Você aqui sozinha bebendo gin. Gin! – Falava enquanto tinha um
ataque de riso bêbado.
— Daqui a pouco eu
desço – disse sem a menor intenção de descer. – Vou terminar essa dose.
“Com meu novo
amigo barman simpático e gato”, pensei.
Mas não deu tempo.
Antes que ela sumisse da minha vista, o resto da galera apareceu. Inclusive meu
namorado.
Me despedi do barman,
paguei a comanda e fui embora. Nunca soube seu nome nem ele o meu. Assim foi
meu primeiro Natal em terras distantes.
Agora, dez anos depois, sentada em outro balcão, tento pacientemente convencer o barman desta balada lotada que só quero um gin tônica. Sem frutas nem especiarias nem coisa nenhuma. Pode deixar as sementes de zimbro. A moda voltou, mas veio gourmetizada.
Dessa vez, estou velha mesmo.
Esta história é fictícia. Qualquer semelhança terá sido mera coincidência não intencional.
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