Foto: Lu Candido
Era um final de tarde de sexta-feira.
Eu estava no terraço de um prédio bem alto na Avenida Paulista, escorada no
parapeito, ouvindo música e olhando para o nada, com o pôr-do-sol à minha frente.
É uma coisa que eu fazia toda sexta-feira. Gostava de ficar lá pensando sobre
tudo depois de sair da terapia. E São Paulo é excelente para isso, é cheia
desses lugares. Naquele dia, eu estava esvaziando a mente. Talvez tenha chorado
em algum momento ou enchido os olhos.
Fiquei atordoada por um segundo, suspirei, joguei as armas e sorri um sorriso que foi quase um riso. Garanti a ele que eu só sairia daquele prédio pela porta da frente, no térreo. Então conversamos um pouco. Ele falou do seu trabalho, sobre as coisas às quais ele tinha de ficar atento, como por exemplo uma mulher no alto de um prédio fazendo nada com cara de triste (estava mais para séria, mas não retruquei). Mas ele também falou do privilégio de ver o sol se pôr daquele ponto de vista, dia sim, dia não.
Eu disse que estava sinceramente agradecida pela preocupação e do quanto o trabalho dele é incrível, embora ele já deva saber, mas acho que reforços positivos são importantes. Não falei muito sobre mim nem sobre o porquê de estar ali. Não disse que sou ativista de saúde mental, uma ironia naquela situação. Apesar de que não posso esquecer que também sou potencialmente suicida. Este homem tentou me salvar quando eu não estava precisando, e eu sou muito agradecida por isso. Nunca houve alguém quando eu precisei de fato, então eu pude sentir a importância daquela atitude.
É a dialética fazendo a vida fluir.
Sabe uma coisa que foi muito louca? Foi um detalhe que ele mencionou no meio da conversa, mas não me passou desapercebido: ele achou estranho – no sentido de preocupante – que eu não estava fotografando. Quem não fotografa hoje em dia?
Nos despedimos. “Bom, vou deixar você continuar apreciando a vista”, disse ele. Agradeci mais uma vez pelo seu trabalho e acabei indo embora também. Não senti mais razão pra ficar ali, pelo menos naquele momento.
Encontrei outro lugar para apreciar o pôr-do-sol na sexta-feira, ou melhor, para ouvir meu cérebro bagunçado, e um tempo depois deixei de ir ao prédio. Hoje tenho um viaduto, mas ninguém precisou fazer uma intervenção até o momento – e que continue assim. Tampouco eu precisei intervir – que continue assim também.
Muito obrigada, bombeiro civil M., por mais um dia normal de trabalho da sua rotina.
Fiquei atordoada por um segundo, suspirei, joguei as armas e sorri um sorriso que foi quase um riso. Garanti a ele que eu só sairia daquele prédio pela porta da frente, no térreo. Então conversamos um pouco. Ele falou do seu trabalho, sobre as coisas às quais ele tinha de ficar atento, como por exemplo uma mulher no alto de um prédio fazendo nada com cara de triste (estava mais para séria, mas não retruquei). Mas ele também falou do privilégio de ver o sol se pôr daquele ponto de vista, dia sim, dia não.
Eu disse que estava sinceramente agradecida pela preocupação e do quanto o trabalho dele é incrível, embora ele já deva saber, mas acho que reforços positivos são importantes. Não falei muito sobre mim nem sobre o porquê de estar ali. Não disse que sou ativista de saúde mental, uma ironia naquela situação. Apesar de que não posso esquecer que também sou potencialmente suicida. Este homem tentou me salvar quando eu não estava precisando, e eu sou muito agradecida por isso. Nunca houve alguém quando eu precisei de fato, então eu pude sentir a importância daquela atitude.
É a dialética fazendo a vida fluir.
Sabe uma coisa que foi muito louca? Foi um detalhe que ele mencionou no meio da conversa, mas não me passou desapercebido: ele achou estranho – no sentido de preocupante – que eu não estava fotografando. Quem não fotografa hoje em dia?
Nos despedimos. “Bom, vou deixar você continuar apreciando a vista”, disse ele. Agradeci mais uma vez pelo seu trabalho e acabei indo embora também. Não senti mais razão pra ficar ali, pelo menos naquele momento.
Encontrei outro lugar para apreciar o pôr-do-sol na sexta-feira, ou melhor, para ouvir meu cérebro bagunçado, e um tempo depois deixei de ir ao prédio. Hoje tenho um viaduto, mas ninguém precisou fazer uma intervenção até o momento – e que continue assim. Tampouco eu precisei intervir – que continue assim também.
Muito obrigada, bombeiro civil M., por mais um dia normal de trabalho da sua rotina.
Existe amor em SP 💖
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