Missão: ficar viva... Mas por quê?


Antes de entrar no assunto, preciso explicar por que estou escrevendo aqui. Não abandonei meu diário de papel. Mas a verdade é que está cada vez mais difícil 
escrever a mão, porque sinto muita dor por causa da tendinite. A essa dor, somou-se outra, nos ossos das mãos (e dos pés), a qual não faço ideia do que seja nem quero saber.

Foto: Cottonbro

Ninguém lê esse blog. Quando digo ninguém, é ninguém mesmo. Zero pessoas. Exceto quando patrocinei algum post no Instagram. Então, provavelmente não haverá nenhuma consequência em colocar aqui coisas tão profundas e pessoais – evidentemente algumas coisas  ainda vão permanecer só no caderno. Isso pode acabar sendo um experimento.

Chega de enrolar. Estou no meio do trabalho e ainda tenho uma reunião de condomínio para organizar.

Todos os dias eu tenho acordado com um único objetivo: terminar o dia viva. O dia termina, outro dia vem, e eu ainda estou viva. Nasce aqui o maior paradoxo de todos os tempos. Estar viva é muito frustrante pra mim.

Não sei bem qual foi o ponto em que tudo desandou de vez. Só sei que isso é diferente de todas as crises que já tive. Não estou desesperada para encontrar uma saída. É mais como se eu tivesse simplesmente desistido de viver e agora estou aqui esperando o tempo passar até o dia da minha morte.

(Pausa para atender o telefone. Era o V. sobre a reunião de amanhã.)

Eu deveria retornar àquele junho maldito de 2023? Ao inferno psicológico com Norman? Uma combinação quem sabe? Junho abriu a cova, e Norman me empurrou para dentro dela e jogou terra. Tudo isso num cemitério apocalíptico na terra da desesperança.

Não tenho coragem de me matar de forma repentina e/ou violenta. Penso muito nas pessoas que vou traumatizar, nas contas que vou deixar pra Carol pagar.  Isso não significa que eu não esteja fazendo nada. Literalmente desisti de mim. Não estou preocupada com a minha saúde. O único médico que mantenho é o psiquiatra.

Tenho tentado agravar a ateromatose e talvez precipitar um AVC. Estou sedentária e comendo muito mal. Mesmo assim, a vida não é justa. Por que o Pirula teve um AVC e uma pessoa como eu segue funcionando quase normalmente?

Também não estou vivendo normalmente. Desde os eventos que citei, minha prostração vem se agravando muito. Continuo obesa e com dores. Não tenho energia pra quase nada.  Tomo banho uma ou duas vezes por semana. Fico acordada até quatro ou cinco da manhã prostrada na cama e durmo até onze horas, meio-dia. Minhas pernas e minha coluna doem.

Sinto como se tivesse um imã planando bem atrás das minhas costas, curvadas pela pesada armadura de ferro que carrego. É difícil fazer coisas muito ridículas, como trocar de roupa. Às vezes eu até durmo de roupa pra não precisar trocar quando acordo. Não sei se alguém que não tenha passado por isso vai entender. É como ir treinar na academia com um gripão daqueles que dói o corpo todo, sabe? E aí chegar lá e ter um treino novo, com mais peso e sequências maiores. Talvez seja algo parecido com isso, porém pior.

Não consigo interagir. Tenho medo de ver as pessoas (ou de ser vista?). Meu mutismo seletivo virou fato consumado. Saio de casa uma vez por semana (no máximo) para ir à terapia (quando não peço para fazer on-line). Além da fobia de encontrar alguém conhecido na rua, tenho que forçar para andar direito, porque sinto dor nas pernas.

Se eu fosse me autoavaliar hoje, eu diria que estou uma pessoa semicapaz, embora totalmente imputável. Nunca me senti tão autoconsciente. Embora não exista uma razão subjetiva sequer para eu continuar, tenho procurado manter o foco em duas coisas: o partido e a graduação.

A graduação é uma questão de orgulho. Estou indo pro último semestre e, assim como a vida, vou até o fim mesmo que por teimosia.

O partido é mais complicado. Não espero que ninguém entenda. E o preconceito me faz não ter vontade de explicar. Aí surge a culpa. Como ninguém sabe o que se passa aqui, me sinto uma parasita. Outro dia, entrei numa paranoia de que eu seria afastada e ninguém estava me dizendo nada. Que estavam falando coisas a meu respeito pelas minhas costas (isso é possível, mas nem sou tão importante assim).

Por outro lado, o partido me mantém com o pé realidade do mundo (porque quanto à minha realidade, estou realista demais).

Às vezes a vida acaba jogando algumas obrigações no nosso colo, como essa reunião de amanhã. Por questões legais, não vou entrar em detalhes aqui. Mas das duas uma: ou eu começo a me relacionar com as pessoas novamente ou vou precisar de muito tempo depois dela pra me recuperar de uma overdose de interações.

Preciso voltar ao trabalho.

Este texto não foi revisado, e nem um texto desta seção será. Livre pensamento.








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